“Os donos da razão” ou, senhores “tolerância zero”!

(Artigo publicado em 29/06/2015 no JusBrasil por Elane e Editado hoje 01/02/2016) 
Não sei como agem as pessoas que, como eu, gostam de se aventurar como escritores.  No meu caso, o que mais me inspira são as reportagens que vejo em dois periódicos que assino virtualmente, mas também das páginas de jornais, revistas e emissoras de TV, que me são disponibilizadas diariamente e, inclusive, atualizadas na mesma proporção, basta tê-las no favorito, ou curtindo por meio de uma rede social, que se receberá  os “feeds” (alimentador) assim que as notícias forem publicadas.
A última que  vi e li foi uma dessas gratuitas (sem necessidade de assinar), estilo policialescas, que o R7 disponibilizou hoje pela manhã (29).  Trata-se de uma notícia que diz assim:
Taxista é espancado por passageiro que se recusou a pagar corrida na Bahia.(por R7 Bahia em 29/06/2015 às 07h:06m)
A desculpa que ele deu por espacar o trabalhador foi que a corrida teria sido muito cara.  De acordo com as investigações, foi a namorada do agressor, uma adolescente, quem pediu a corrida na região do Hospital Roberto Santos, em Salvador, com destino a um espaço de festas de Camaçari. Quando chegou ao destino, Marcos Vinícius se recusou a pagar a conta de cerca de R$ 200. Começou então uma discussão e rapaz agrediu  o taxista com vários murros. Após a agressão, o casal seguiu para o forró.
O taxista foi socorrido primeiro para o Hospital Geral de Camaçari e depois transferido para Salvador. As testemunhas deram socorro à vítima e colaborou com a polícia para localizar o suspeito.
Ao ser ouvido na delegacia de Camaçari, o homem confessou ter agredido o taxista. A delegada Taís Ferreira contou que um moto taxista socorreu a vítima e outro ficou monitorando para não perder o autor de vista. A testemunha acionou a Polícia Militar que fez a condução para delegacia. Ele foi flagranteado por lesão corporal de natureza grave.
— Ao chegar aqui (Camaçari), ele, já com a intenção de não pagar, agrediu o taxista. Ele achou que a corrida estaria cara.
A delegacia local investiga a autoria e motivação do crime.
Agir de forma contrária à Lei e achar que tem razão
Aqui nesse país é quase comum pessoas praticarem as mais diversas formas de crimes e ainda se achar donos da razão.
Quem nunca viu/ouviu uma notícia de alguem que teria assassinado a namorada ou esposa porque ela, supostamente, o teria traído.  Muitas das vezes essas mulheres não são apenas assassinadas pelos seus companheiros, mas antes disso torturadas e a seguir mortas de forma brutal (já vi  casos em que decaptaram as vítimas e não felizes publicaram nas redes sociais ou enviaram a cabeça as delegacias de polícias com dizeres do tipo: “mulher que trai tem que morrer mesmo”!
Casos de gente que deve dinheiro a um “amigo” e cansado de ser cobrado decide matar; outros que apenas foram fechados no trânsito, talvez por uma “simples imprudência” do outro condutor, não aceita a desculpa e “mete bala”!
Mortes banais por aqui é o que há de mais comum, no entanto, os autores,  tem sempre algo para contar como se fosse um grande motivo (o motivo dos motivos).
As mais banais que já tive notícia foram as seguintes:  “adolescente é morta porque se recusava a devolver a roupa para a amiga”; “jovem é morta pelo namorado porque se recusou a fazer sexo grupal”;  “um rapaz de 22 anos teria matado a mãe com a ajuda de um amigo porque a mãe não estaria contente com ele por não estudar nem trabalhar”;   e quem não se lembra do crime cruel que aconteceu no litoral sul de São Paulo. “O zelador foi morto e esquartejado por simplesmente fazer o trabalho da forma mais correta possível e por não agradar um dos moradores”;  “um bombeiro foi morto a chutes por um homem, após se negar a emprestar um isqueiro na rua Espírita, na região do Cambuci, no centro da capital paulista”“dançarina foi morta pela rival após vencer concurso para gravar DVD de forró. A jovem foi morta pelo namorada da moça que perdeu a disputa”, etc. (fontes R7 vide abaixo).  Mortes e agressões da mesma natureza das que foram citados aqui  existem milhares no Brasil!  Se fosse citar, não faria outra coisa a não ser digitar durante dias.

Como se pode acreditar que uma humanidade assim tenha salvação?  Impossível!  Gente que por um simples “pum”  mata o outro!


No entanto, ainda existem lugares onde, eu diria, quase “reina” a tranquillidade, infelizmente esse lugar está longe de ser aqui nesse país.  Lugar onde você pode sair e deixar a porta aberta, lugar onde você sai e encontra uma banca de frutas pela estrada sem vendedor, somente com os preços e uma caixa para depositar o dinheiro da compra (você pega, deposita o dinheiro na caixa, que está aberta com outros valores dentro e leva, única e exclusivamente, a mercadoria que pagou – nem sequer passa pela cabeça das pessoas que ali vivem de pegar o dinheiro que está na caixa e muito menos a mercadoria e levá-la sem pagar); isso existe?  Existe, e lá também quem as compra e produz são seres humanos – todavia, diferentes dos daqui!  (Holanda, Dinamarca, Suíça  e alguns lugares no Japão).

Quando penso no tipo de pessoas  assim, capazes dessas barbaridades todas, só me vem em mente a experiência feita nos Estados Unidos em 1994, quando Rudolph Giuliani implantou a política da Tolerância Zero. 

Tolerância Zero legal, via Estado, acredito ser uma coisa, outra bem diferente é a do próprio cidadão querer fazer  “Justiça” com as próprias maõs.   A maioria dos casos que foram citados acima não formam “justiça”, muito antes pelo contrário foi sim, a total falta de justiça, já que os crimes foram cometidos por pessoas que se acharam com razão, mas não as tinham de forma alguma.  Se você deve alguém, o que tem que fazer é pagar e não se aborrecer porque é cobrado; se você não pode pagar uma corrida de taxi que vá de ônibus; se não tem um isqueiro para acender um cigarro, peça alguém que tenha e queira dar (a simples negação é por demais banal para tirar uma vida).

Para onde Caminha a humanidade foi um desabafo meu, esse é outro, creio, ser um relato de fatos ainda mais chocantes acerca das atitudes dos seres (des)humanos que habitam esse país “terra de ninguém”! É a verdadeira "banalidade do mal"!





Autoria: Elane F. de Souza OAB-CE 27.340-B



Fotos/Créditos: cardápiopedagógico.blogspot (charge Montt) e colunadolanblogspot

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