Advogado Audiencista, Advogado Correspondente: “o fundo do poço”! Vale a pena seguir?

Advogado Audiencista Advogado Correspondente o fundo do poo Vale a pena seguir
Lembro-me como hoje do dia em que fui receber minha primeira carteira da OAB lá em Cuiabá, Mato Grosso. Apesar de ter colado grau em 2003, foi somente em 2004 que resolvi fazer a prova da Ordem. Naquela época a Advocacia não me atraia muito, apesar de ter sido uma excelente aluna no Estágio Obrigatório, de 2 anos, que a minha Faculdade oferecia (excelente “laboratório” para se aprender a Advogar de verdade), sempre tive ”na cabeça” que o meu mesmo era concurso público – já tinha até uma área definida – queria ser Delegada de Polícia, de preferência, Federal.
Na época trabalhava no Departamento de Polícia Federal (DPF Cuiabá) como administrativo contratada, foi aí que a profissão de Delegado me encantou ainda mais. No entanto, não tive muito sucesso nos concursos. Como disse antes, apesar de ter sido uma excelente aluna de estágio, na Faculdade, durante 5 anos, sempre estive entre as piores da turma – hoje sinto vergonha em admitir.
De lá para ca muitas “águas rolaram”! Foi estudando para prestar o exame da OAB que percebi não saber nada – muito menos de Direito! Todavia, ao notar que os alunos que estavam lá no cursinho não brincavam, só pensavam em estudar para passar no exame ou em um concurso qualquer, que resolvi dar tudo de mim, parecia estar numa competição e eu gostava de sentir-me assim pela primeira vez; motivada, entusiasmada com os estudos.
Acredito que me transformei na melhor aluna que podia. Só não era a melhor das melhores porque era como se estivesse vendo o Direito pela primeira vez, já que parecia não saber nada. Em seis meses de curso aprendi mais que em cinco de faculdade.
Após esses seis meses de estudo fiz exame e me veio o prêmio – aprovação na primeira fase. “Infelizmente” estava inscrita num concurso da Polícia Civil de Brasília, que era minha preferência diante do exame; acreditei estar preparada para ele e quando a OAB marcou a data para a segunda fase veio a triste notícia – era a mesma da prova de Brasília. O que fazer? A prova de Brasília que era meu sonho antigo ou a segunda fase da Ordem?
Acredito que já sabem a resposta. Optei pelo sonho número um – PC-DF. Naquela época, aliás, não sei como é hoje, mas sei que tive que pagar outra vez e fazer todas as fazes novamente, além do mais não consegui aprovação em Brasília. Doeu? Doeu sim, mas foi uma experiência e uma tentativa – como poderia saber se ia obter êxito na Policia de Brasília se não tentasse?
Por fim, seis meses depois, em outro exame, consegui a aprovação em todas as fases sem ter que “jogar cara ou coroa” para decidir entre uma coisa e outra, como antes.
“Vermelhina” nas mãos, um largo sorriso no rosto e os aplausos de minha mãe! A felicidade era grande, muito mais na hora do juramento diante de muitos colegas e do então Presidente da Seccional MT.
O que mudou em minha vida após OAB
Uma habilitação assim muda a vida de muita gente; rendo minhas homenagens e aplausos para àqueles que conseguiram transformá-la em algo melhor e ter sucesso na profissão.
No meu caso nada mudou. Minto! Mudou muito, mas não teve nada a ver com a aprovação no bendito exame da ordem. Trabalhei poucas vezes como Advogada durante esses anos todos, de onze, talvez cinco tenham sido investidos, esporadicamente, na Advocacia. E não é por detestar a profissão e me considerar uma péssima profissional. Como já disse, sempre fui uma excelente Advogada, desde a época do estágio meus clientes me adoravam e sentiam muito quando tinham que me deixar (no estágio – substabelecer para outro aluno), o mesmo se passou durante os poucos anos que exerci a profissão de verdade.
Ocorre que, com algumas reprovações nos concursos para Delegado, resolvi “replanejar” a vida. Errei muito, mas foi o que fiz. Devia ter seguido tentando esse meu sonho enquanto Advogava, talvez hoje seria uma profissional destacada na área policial, quando menos, se optasse pelo segundo sonho, advogar, hoje também teria muito sucesso! Mas nem sempre trilhamos o caminho que nos levará ao exito. Talvez por ignorância, talvez por comodismo! Já não sei qual foi o meu caso!
Fui morar fora do país por ter fracassado nos concursos e no amor! Estive fora quase cinco anos, retornei em meados de 2011; como não tinha “aberto um livro”, a não ser no último ano quando resolvi fazer um mestrado em Direito Empresarial na Lusófona de Lisboa, o qual também ficou pela metade, faltado a entrega do TCC e mais 4 meses de aulas, já que o dinheiro acabou e tive mesmo que retornar.
Desde 2011 que venho me “reciclando” na área jurídica. Muitas coisas mudaram de 2007 até o meu retorno ao Brasil; teria mesmo que estudar, leis novas surgiram, além disso, revisar o que tinha aprendido algum dia, ou nem sequer poderia ser chamada “Advogada”, apesar de portar a carteira profissional há muito tempo.
Hoje, 2015, já me sinto bastante preparada para a Advocacia, já venho exercendo a profissão desde final de 2012, depois de oito meses de estudo, agora já são quase quatro anos estudando para realizar algum trabalho e também para, novamente, investir nos concursos públicos. Desde então já fiz alguns, não obtive aprovação no número de vagas, entretanto dessa vez não pretendo desistir, é uma questão de honra seguir tentando até conseguir êxito em algum que, realmente, valha a pena.
Contar um pouco de minha história teve a finalidade de mostrar aos colegas um exemplo do que não devem fazer. Não desistam de seus sonhos! Hoje, entendo que, por mais distante que você esteja de alcançar o sucesso, se você desiste de tentar é aí que se acabou! Não saia dessa “fila virtual” em que você se encontra, ao sair dará lugar ao que estava em pior posição que a sua; se um dia retornar, estará como estou, no final da fila – recomeçando!
Mas, e a Advocacia, como se encontra hoje? A situação é melhor do que há 10 anos?
Incrível, mas já naquela época tinha um professor do curso para OAB que dizia: “aqui nessa cidade tem mais Advogado do que gente”! Pior que sua frase, não era de todo, uma mentira “. Acredito que hoje Cuiabá tenha, no máximo, 650 mil habitantes e uma “faculdade” de Direito em cada esquina, pois já era assim naquela época.
Como se pode notar, a vida de Advogado, há muito que não tem àquele glamour do passado. Quando digo passado entenda-o como, no mínimo, umas cinco décadas.
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Hoje a profissão está muito desvalorizada, apesar de ainda ser muito criticada e motivo de piada, como sendo profissão de oportunistas e sinônimo de aproveitadores; mas não, somos apenas profissionais como qualquer outro que busca, em muitos casos, não muito mais que a própria sobrevivência, prova disso é o que citarei agora, acreditem ou não:
Como retornei a Advocacia há pouco tempo e nem sequer estou vivendo em minha cidade natal, nem ao menos na que tenho meu pequeno patrimônio (ou seja, minha casa), tive que me cadastrar em alguns sites (incluso este) para promover-me como Advogada e conseguir algum trabalho enquanto estudo para ser funcionária pública. Todavia assustei-me, e muito, com os preços do mercado em se tratando de Advogado Correspondente ou Audiencista. É um absurdo que alguém lhe ofereça 70, ou 80 reais para realização de uma audiência! De verdade, estou, até agora, em choque, tentando enteder como as coisas puderam chegar a esse ponto! E o pior que esse tipo de oferta vem de outro colega, que em melhor situação que a sua lhe oferece “trabalhar de graça” para ele em outro Estado.
E os absurdos não param por aí: ser preposto 50 reais, Advogado e preposto 105 reais, diligência no judiciário 25 reais, protocolo e/ou distribuição 15 reais, etc…, acaso eles acreditam que em uma metrópole os colegas irão gastar quanto para se locomover até esses locais? É de rir para não chorar! A gasolina, a maquiagem e o perfume ficam muito mais caros que isso!
Podem estar achando que sou rica ou algo assim, mas não, tenho pouco, apenas o suficiente para sobreviver razoavelmente; mas desculpe dizer, trabalhar por esses valores é desprezível, tendo em conta que, como disse minha mãe ao relatar o caso a ela: “em uma lavagem de roupa se ganha mais do que isso”! Como sou Advogada e não lavadeira fico por aqui, continuo com os estudos, quiçá, em breve, consigo mais que apenas míseros 50 reais oferecidos para ser preposto. Enfim…..
É mesmo o “fundo do poço” pois a luz que consigo ver vem lá de cima e já é fraca devido à distância, entretanto sei que posso seguir lutando para melhorar essa situação vexatória porque passamos, pois, o fundo do poço não está cerrado, ainda não há “terra por cima” – o que nos leva a crer que há esperanças!
Autora: Elane F. De Souza OAB-CE 27.340-B (proibida a reprodução sem citar a fonte)


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